segunda-feira, 6 de abril de 2015

vi

A caraterística distintiva do fascismo é a importância dada aos interesses corporativos em detrimento dos interesses individuais, necessariamente conflituantes. O fascista defende a união e o consenso. A sociedade é vista como um feixe (fasci, em Italiano) de forças sociais amarradas por valores que não podem ser questionados, como a tradição, a Pátria, a religião e o líder. O indivíduo é apenas valorizado quando o seu carisma lhe concede autoridade devido ao seu poder económico (os magnatas que se agarram como saprófitas ao regime instaurado) ou simbólico (nomeadamente membros do alto clero). O indivíduo é valorizado enquanto possível líder; enquanto varão ilustre. Nunca enquanto pessoa. A retórica fascista pode por vezes dar a ideia de que se preocupa com alguns indivíduos. Com as crianças (mas apenas porque são os reforços que permitirão a manutenção do regime); com os velhos (apenas enquanto símbolo da tradição, das raízes, da raça) e com as mulheres, vistas como seres frágeis cuja utilidade reside meramente na maternidade, embora creia que regimes fascistas modernos pudessem perfeitamente adaptar-se a uma outra imagem da mulher. As dilmas-guerrilheiras, num lado do espectro, e as mérkeis-arautas-das-virtudes-do-capitalismo demonstraram à saciedade que a mulher também pode fazer parte da estrutura de força e autoridade do estado, seja a que nível for no organigrama militar e policial. A mulher serve tão bem como o homem para carne de canhão. Os métodos contracetivos acabaram com a fatalidade da maternidade - em vez de dar vida, as mulheres passaram a ter ao seu alcance um destino homicida, caso sintam que esse é o caminho que dá significado à sua passagem por aqui. Enfim, hoje, ainda mais que no tempo de Benito Mussolini, um regime fascista seria (e é, porque há elementos de fascismo na opinião pública atual cada vez mais fortes e inquestionados, a não ser pelas aves raras do esquerdismo mais intelectual a que ninguém dá crédito) o regime da morte do indivíduo. Da morte da personalidade e da diferença. O regime do nojo e da proibição. O fascista odeia aquilo que o enoja, não aquilo que considera injusto. Odeia o pedófilo porque o abuso de crianças é nojento - não porque é uma violência sobre um ser humano. Odeia o estrangeiro porque tem uma pele nojenta, um cheiro nojento, um sotaque nojento. Odeia aquilo que o enoja, não aquilo que considera injusto.  Nada é injusto se serve a Glória da Nação.

A direita em Portugal não é necessariamente fascista, embora viva embebida de conceitos e valores fascistas. Por isso, pode reclamar para si alguma defesa do indivíduo, em contraste com a defesa do coletivo pela esquerda. Entenda-se, contudo, que, tal como já disse, o indivíduo apenas interessa a esta ou a qualquer outra direita, dita fascista ou não, enquanto líder das forças unidas e consensuais da sociedade, enquanto empreendedor capitalista.

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